Olá Ana Moser,
Sem dúvida os problemas da organização poderão fazer mais barulho do que as competições, os Jogos Pan-Americanos deste ano são uma verdadeira aula de como NÃO SE DEVE organizar uma competição internacional.
Eu inclusive elaborei uma pergunta a respeito, não há muito tempo, discorrendo sobre este mesmo tema: https://answersrip.com/question/index?qid=20070524144618AAyGL8R
Já passam de 3,8 bilhões de reais (até agora) os gastos com o Pan – são contratos sem licitação, obras atrasadas, falta de transparência, estouro do orçamento, etc etc etc...
Fonte: relatório do Tribunal de Contas da união (TCU)
http://www2.tcu.gov.br/portal/page?_pageid=33,634516&_dad=portal&_schema=PORTAL&p_semdata=1&p_itemid=2776260&p_back_url=%2Fportal%2Fpage%3F_pageid%3D33%2C2294654%26_dad%3Dportal%26_schema%3DPORTAL
Só para se ter uma idéia, este montante é maior que o total divulgado pelo governo da África do Sul para a Copa do Mundo de 2010 (http://br.esportes.yahoo.com/copa/noticia/061018/5/19wlu.html ) ou seja, um valor para tornar 12 cidades sedes no próximo mundial de futebol no continente africano, é insuficiente por aqui para adequar uma única cidade à receber um evento desportivo – diga-se de passagem, infinitamente menor em termos de relevância e retorno que uma Copa.
O custo médio das quatro edições anteriores (Santo Domingo, Winnipeg, Mar Del Plata e Havana) ficaram em torno de 260 milhões de reais, e o Brasil, está gastando doze vezes mais para promover o mesmo evento.
O fato é que não se sabe ao certo – e isto varia muito de caso a caso – se vale a pena ser sede de um Pan. Faltam estudos e balanços confiáveis sobre os jogos já realizados que permitam analisar se um Pan gera recursos e impactos positivos o suficiente para pagar pelo investimento necessário. Winnipeg, no Canadá, é a cidade que fez o balanço mais preciso até hoje, pela conta das autoridades o evento “mais ou menos” se pagou. É... digo mais ou menos porque na verdade, deixou um prejuízo de 3,6 milhões - como essa conta não leva em consideração os impactos de longo prazo, o evento até valeu.
Já os de Santo Domingo em 2003 não tiveram o mesmo resultado; deixando obras sem utilidade na capital e dívidas que (não) se pagam até hoje.
Ou seja, a comparação entre as duas cidades dá um bom exemplo do que costuma acontecer:
Em geral, no hemisfério norte não se precisa investir tanto em obras para receber um pan. No hemisfério sul, muita coisa é construída, e vira uma festa com dinheiro público, com os gastos indo lá para o alto – e o legado para a população muito aquém do que poderia ser.
O caso deste ano em especial é exemplar. O pouco benefício que estes jogos muito provavelmente devem trazer ao povo carioca (e ao brasileiro também, que na verdade contribui com o "grosso" das verbas - federais) evidenciam quanto se planeja mal no Brasil "oficial", já que quando o Rio se candidatou a sediar o Pan em 2002, criou-se uma expectstiva de que a cidade passaria por grandes mudanças. E não foi à toa. O grupo responsável pela candidatura, formado pelo Comitê Olímpico Brasileiros e por integrantes dos governos municipal, estadual e federal se esforçou para impressionar a Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa), responsável pelos eventos.
No entanto, não se sabe se isto acontecerá, pois houve uma mudança de prioridades com foco nas instalações esportivas em detrimento à infra-estrutura básica. Para desbancar a concorrente americana Santo Antonio, a equipe havia apresentado inúmeros projetos de melhoria na infra-estrutura carioca. Era de esperar que o Rio, guardadas as devidas proporções entre uma olimpíada e um pan-americano, realizasse algo na linha do que fez Barcelona, que após a olimpíada, ganhou uma nova orla, vias expressas e novas redes de telecomunicação e esgoto - representando um legado verdadeiramente relevante para os espanhóis. No Rio, porém, o orçamento se foi sem que nada similar saísse do papel.
Ou seja, as promessas parecem que eram simplesmente para serem apenas promessas, e a cidade desperdiçou uma bela oportunidade de melhorar.
Por isso penso que vale a pena chamar a atenção para esses “detalhes”, porque diferentemente do que ocorre em países desenvolvidos onde as sedes são financiadas pelo capital privado (em geral com projetos auto-sustentáveis envolvendo parcerias que visam retornos futuros) por aqui os gastos e o planejamento são arcados pelos cofres públicos, com todos as peculiaridades que se tratando de serviço estatal nós conhecemos e pagamos (claro).
Então acho que é isto, provavelmente os problemas enfrentados no Pan 2007 gerarão efeitos negativos para o COB que planeja futuramente pleitear uma Olimpíada no Brasil, mas temos enorme esperança de que um eventual sucesso dos atletas brasileiros possa fazer com que o Rio 2007 seja mais lembrado por seus feitos esportivos do que pelas trapalhadas dos seus organizadores.
Quero por fim como criciumense dizer que sinto enorme orgulho em ter você representando nosso maravilhoso estado de Santa Catarina, lhe parabenizar pela iniciativa de abordar um tema que é de suma importância para todos nós, lembrando que é de atitudes como esta que o povo precisa ver partindo seus ídolos - eu sou e já era um grande fã seu - mas sem sombra de dúvidas cresceu ainda mais meu apreço por você agora, parabéns.
E que fique aí o recado.
Abraços.